Casagrande é campeão mundial pela 14ª vez
O powerlifter Gaúcho fatura mais um mundial pela WNPF em Atlanta, nos EUA
Quantos atletas têm mais de sete títulos mundiais sem estar prestes a se aposentar. Bem, tirando o surfista Kelly Slater, talvez um profissional em automobilismo ou em algum outro esporte que permita uma vida mais longa, sem depender do físico. Mas um brasileiro quebrou essa marca há sete anos e vem, ano a ano, cravando título atrás de título. Desse modo, Evandro Casagrande, aos 40 anos, talvez seja o atleta brasileiro que mais amealhou títulos mundiais na história recente. Ele tem agora 14 mundiais vencidos diante de uma platéia de gringos boquiabertos. Mas quem é Casagrande? Que esporte ele pratica, afinal? O que é powerlifting? Como funcionam as federações mundiais que validam os títulos?
Bem, o powerlifting é um esporte de força que envolve três modalidades: supino – bench press -- (movimento deitado em banco, que traz a barra até o peito e a devolve ao cavalete), levantamento terra – dead lifting -- (tira-se a barra do chão, traz-se até a cintura e põe de volta no solo) e agachamento – squat -- (com a barra na nuca, agacha-se até que os joelhos formem um ângulo menor do que 90 graus e subindo com a carga, leva-se a barra ao cavalete). No Brasil o powerlifting é conhecido como levantamento básico e seus atletas são conhecidos como basistas.
Existem atletas completos, que têm boas marcas nas três modalidades, mas na média não são nenhum fenômeno. E existem atletas que surgem cravando marcas que superam o inimaginável, para o peso corporal que possuem. Evandro Casagrande é um desses fenômenos que aparecem de tempos em tempos em alguns esportes. Ninguém, até o presente momento, superou seu coeficiente (relação peso corporal x peso erguido) no levantamento terra no Brasil: com 102 k de peso corporal Evandro levantou, em um movimento perfeito – que pode ser conferido no youtube – incríveis 360 k. Ou seja, mais de três vezes e meia seu peso.
Ele começou sua carreira há 20 anos, em Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, onde obteve todos os títulos (estaduais e nacionais), além de cravar os recordes em todas as categorias que disputou. Em 2002, Casagrande mudou para Santos, em São Paulo, e passou a competir pela cidade. Continua até hoje faturando títulos nacionais e internacionais, e cravando recordes. Ele nunca perdeu um campeonato que disputou, e em mais de 90 por cento deles quebrou algum recorde.
Em 2009, Evandro sofreu uma lesão gravíssima no bíceps esquerdo. Alguns atletas – apocalípticos -- anunciaram o fim da carreira dele. No entanto, depois de operar o tendão do braço e costurá-lo com um fio metálico, o atleta foi para os Estados Unidos, mais uma vez, e trouxe seu décimo terceiro título. E mais, passou a competir financiado pelo programa Bolsa Atleta, do Governo Federal, como forma de reconhecimento do talento do powerlifter e de sua federação, a WNPF.
A World Natural Powerlifting Federation (WNPF – presidida por Flávio Danna) é uma das mais importantes federações internacionais de esportes de força, e está presente em quatro continentes. No Brasil, a WNPF tem sua base principal no Rio Grande do Sul, que, juntamente com São Paulo, formam os principais centros formadores de atletas de força. Essa federação, juntamente com a IPF (International Powerlifting Federation – presidida por Antônio Carlos Conrado), e com a WABDL ( World Association Bench Press and Dead Lifting – presidida por Wilmar Oliveira) são, hoje, as mais representativas do país, pois organizam campeonatos nas esferas local, estadual, nacional e internacional, como também são reconhecidas universalmente.
É nesse contexto que o atleta-powerlifter Evandro Casagrande merece destaque mais uma vez, pois neste final de ano, em Atlanta, nos Estados Unidos, conquistou o décimo quarto título mundial. Com isso renova sua coleção de troféus do levantamento terra, cravando também um novo recorde (de 310 k) na categoria máster até 100 k de peso corporal. Mas, como era de se esperar – e hoje talvez já nem seja mais notícia --, faturou como sempre o troféu de campeão da categoria open. Só para variar!
Escola de campeões
E Casagrande não está sozinho. Em Santos, onde mantém sua rotina três vezes por semana, ele treina um atleta que se apaixonou pela modalidade do levantamento terra depois dos 50 anos de idade. Jorge Martins começou a praticar powerlifting em 2004 e a partir daí passou a competir na categoria máster em todas as federações. Assim como seu mentor, Martins nunca perdeu nenhum campeonato que participou e recentemente confirmou o título brasileiro em um campeonato que aconteceu em Caxias do Sul.