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Acadêmico:Desigualdade celular

Acadêmico:Desigualdade celular

desigualdade celular:

Significações na mobilidade a partir do lugar social

 

Christian Godoi[1]

 

Resumo: Com a participação do telefone celular no cotidiano de boa parte da população mundial têm-se uma prótese que amplia espaços, tempos, e formas diferenciadas de significação, a partir de um mecanismo que possibilita a produção de significados nos diversos apetrechos nele hibridados. Surgem então espaços comunicacionais nos quais diversas relações se efetivam. Os sentidos produzidos a partir do aparelho, então, passam a reproduzir o mundo de seus usuários. Nesses espaços celulares é possível assemelhar-se, graças à democratização das tecnologias disponibilizadas para todos, ou diferenciar-se e, conseqüentemente, simbolizar a desigualdade. Têm-se, com isso, o instrumento celular como reprodutor de desigualdade.

      Palavras-chave: celular, desigualdade, práticas culturais, simbólico.

 

 

 

 

Introdução

À integração das diferenças, à convivência com conteúdos mediáticos produzidos para compor o universo simbólico das massas, à transnacionalização de culturas, somam-se agora, como nunca, as tecnologias. As estruturas (físicas e ideológicas) a partir das quais surge o pensamento sociológico moderno dão lugar (ou convivem com), nesse início de século 21, a outra esfera – a da informação -- na qual se efetivam todas as ações representativas dos sistemas econômico, social e político do mundo físico, e do universo cibernético, mediático e simbólico. Com efeito, todas as práticas e significados do mundo de hoje acontecem inevitavelmente pelo, entre, ou por causa do universo digital. A esse fenômeno denomina-se cibercultura[2], e o telefone celular é um dos ícones mais dinâmicos de sua representação.

Este estudo busca apontar as representações simbólicas de desigualdades presentes no uso do celular. Sua pertinência é a atualidade e originalidade, posto que desloca o olhar do aparelho portátil (de suas atualizações ou de uma relação unicamente espacial) e foca especificamente a produção simbólica possível de ser verificada pelas ações do usuário que se apresenta, hoje, em papéis sociais mesclados, como consumidor de informação, cidadão universal, produtor de conteúdos.

Acredita-se que essas ações refletem os ambientes urbanos, mais precisamente a esfera local e, sendo assim, representam no sentir e no agir durante relações sociais ou em práticas culturais um abismo de desigualdades (econômica, cultural e social), dissimuladas pelos apetrechos do simulacro tecnológico criado também a partir da prótese celular.

Com múltiplos aparelhos convergentes ao telefone celular, têm-se pela primeira vez um contexto de tantas máquinas em um mesmo tempo, anexadas ao corpo[3] – e, cabe complementar, em deslocamento e disponível para todos. Essa prótese com a gama mediática nela hibridada, não somente acelera/agiliza contatos interpessoais e grupais através de redes comunicacionais, como permite ressignificar o cotidiano[4] e a relação do que é público e privado; caracteriza prestígio estamental[5], estende os sentidos do corpo (bem como a ele anexa meios massivos e ferramentas de produção áudio-visual), intensifica o sentimento de pertença[6], a sensação de proximidade e de segurança[7], enfim, medeia elementos (físicos e abstratos) que compõem a sociedade[8].

Contudo, esse pequeno híbrido, em seus usos banalizados, expõe paradoxalmente o surgimento de distintos modos de inclusão, e um modelo re-arranjado de exclusão, da manutenção da solidão diante da multidão, de subordinação ao poder econômico e, principalmente, de práticas de violência (física e simbólica) que se desenvolvem a partir de seus usos; ações estas despercebidas pelos usuários.

Ainda que de modo simbólico, acredita-se, o celular reforça uma desigualdade vinculada à má distribuição da renda de nações e de pessoas em relação aos estratos populacionais. Nesses ambientes econômica e simbolicamente desiguais existem outras variáveis relevantes para suas concretizações:

 

Constituem também fatores que incidem de maneira importante na distribuição de renda a posição do emprego (nos setores formal e informal da economia), as oportunidades educativas, as diferenças de instrução dos estratos populacionais e de a cesso aos serviços básicos de saúde, as taxas demográficas, o número de filhos por família e as diferenças de gênero. (DÍAZ, Laura Mota, in: CIMADAMORE, Alberto e CATTANI, Antônio David, 2008, p. 128, 129)

 

Crê-se, portanto, que os significados das tendências de usos do celular e da relação dessas tendências com a condição sócio-econômica, cultural e de prestígio social a partir de espaços urbanos (estes representantes de esferas sociais desiguais) demonstram que o telefone móvel portátil não somente participa de cotidianos. Reforça hábitos, laços sociais e culturais e assim pode transformar-se em um objeto reprodutor de condições já impostas, podendo agregar a elas valores democráticos ou de igualdade, bem como de diferenças e desigualdades.

Existe aí um paradoxo: por um lado a prótese celular inova ao gerar necessidades (ao menos de manutenção da tecnologia para a comunicação); ao saciar efemeramente o prazer[9] (quando permite a audição de músicas, os jogos, e a proximidade com o outro); ao intensificar sensações de segurança, de inclusão e de conexão com o mundo físico e com o digital. Por outro lado o telefone celular reflete também inúmeras formas de exclusão (àqueles que não detêm capital – econômico e simbólico para servir-se dos serviços pagos), de desconexão (aos que não possuem tecnologias compatíveis com o grupo) e de diferenças (é-se agora também um desconectado, portanto excluído de relações sociais e comunicacionais mediadas pelo mobile).

Está-se diante de um meio de comunicação ímpar, através do qual as diferenças[10] são imaginadas ou expressadas ágil, veloz e intensamente. Desse modo, reconfiguram-se sentidos de igualdade e de desigualdade – deslocados do processo econômico e inseridos agora no universo social, político, cultural e comunicacional – graças ao enredamento da sociedade em tecnologias do tempo real, em especial à protetização dos media ao corpo.

O presente estudo trabalha com a noção de práticas culturais e sociais manifestas a partir dos usos do telefone celular e de seus híbridos. Tem como objetivo geral refletir sobre as desigualdades simbolizadas com a incorporação desse aparelho móvel ao cotidiano. Especificamente, quer-se verificar as tendências para as quais os usos do objeto celular apontam -- em ambientes representantes de diferenças – e, a partir desse levantamento, realizar uma leitura dos significados das práticas sociais representadas através dessa tecnologia (pertença, prestígio social, exposição de si, vigilância e outros capazes de compor desigualdades).

Para a execução deste trabalho de modo sólido, estruturado em âmbito conceitual e teórico, serviu-se de dados empíricos primários (com pesquisa de campo para a aferição das tendências de uso do mobile em comunidades específicas) e secundários (a partir da bibliografia e de informações disponíveis na web) que apresentassem caminhos de análise da problemática proposta. Para contextualizá-lo à sociedade a partir da qual se observa esse fenômeno, utilizou-se, na coleta de dados, o método de abordagem hipotético-dedutivo[11], como método de procedimento o estudo de caso[12], pois acredita-se também que enquanto um lado se desmantela (de cidadania), outras formas de articulação se manifestam em oposição ao global, e a partir dele, como é o caso do reforço das relações locais[13].

Os dados empíricos são aqui apontados como referência complementar de apoio, não se constituindo como razão de ser da argumentação proposta, na sua característica de dissertação.  

Dentro ainda deste panorama, fica praticamente impossível um controle sobre fronteiras simbólicas, ou sobre os possíveis sujeitos que se formam em seus interiores, cabendo a eles o próprio reconhecimento de suas condições, e à ciência a análise e resultados desses movimentos.

Esta busca de referenciais empíricos sobre a tendência dos usos do celular e das práticas sociais foi efetuada em três espaços distintos: dois (morros e bairros de praia) vinculados a um elemento principal: a proximidade à praia que, pode-se afirmar, determina o sentimento de status dos indivíduos e a percepção do lugar social que ele ocupa; o terceiro espaço é um ambiente de passagem, no qual os vínculos de freqüência são o trabalho e o consumo (centro da cidade).

 

A desigualdade e o simbólico

Para o presente estudo o campo simbólico é produzido por inúmeros fatores ligados à cultura, ao econômico, às relações sociais e políticas, de interesse entre as classes (grupos, estamentos ou estratos sociais), e essas relações, apesar de desiguais, tensionam-se incessantemente.

A hipótese deste trabalho, portanto, é a de que as ações efetivadas através do celular são a manifestação simbólica de espaços sociais de desigualdade. O aparelho, destarte, é um reprodutor não somente dos desejos, das necessidades e das diferenças de cada grupo, mas é principalmente um instrumento de possibilidades que permite aos diferentes se posicionarem diante do outro (economicamente, socialmente, culturalmente).        

As desigualdades, como expressão e significação da manutenção das diferenças, apresentam nuances distintas em esferas culturais, políticas ou sociais. Para Elias, “as desigualdades entre grupos e indivíduos estão entre as marcas distintivas recorrentes das sociedades humanas” e a trajetória para a compreensão desse fenômeno está ainda em curso. “Mas”, continua o sociólogo alemão, “não deixa de ter importância, para a compreensão das sociedades humanas, examinar e questionar a reivindicação, feita por algumas delas, de representarem um estado de igualdade[14]”.

O aparelho celular, pelo acesso e uso comum, simboliza pretensamente a semelhança, mas a desigualdade se manifesta pelo ambiente que forma o usuário. As igualdades estão na necessidade de comunicação, no uso generalizado do celular como instrumento de relacionamento; as desigualdades estão nos modos de representar presentes nesses usos.

A distribuição de produtos industrializados, tecnológicos e simbólicos entre as mais variadas partes do planeta proporcionam a renovação incessante de posições sociais e sua hibridação, como também o reforço de perspectivas tradicionais e modernas a partir da significação. São formas contemporâneas da base, em que o produto industrial dá lugar aos serviços, tendo como modo de atualização a cultura processada pelos media (de massa e digitais).

Torna-se necessário perceber que dadas as circunstâncias em que a sociedade se inscreve “não se podem opor ‘gostos de liberdade’ das classes hegemônicas a ‘gostos de necessidade’ das populares”, explica Canclini[15]. Para ele, “ainda que os setores subalternos não disponham de tempo nem dos recursos econômicos da burguesia para se entregarem a uma ‘estilização’ de sua vida, não vivem uma vida sem estilo”. Com efeito, o que se vê é a reestruturação física e/ou simbólica do que se apresenta em diferentes esferas, e uma aplicação dessas interpretações de acordo com as possibilidades de cada um.

 

A teoria da “legitimidade cultural”, que reduz as diferenças a faltas, as alteridades a defeitos, não consegue ver a estilização que se imprime a diferentes partes da casa, tudo aquilo que os adolescentes populares cultivam nos enfeites do seu corpo, na roupa e na cosmética, nos seus automóveis e motocicletas, no ambiente de seus quartos ou lugares de diversão. (CANCLINI, 2005, p. 88)

 

Não se apagam, contudo, os traços do relativismo cultural “que imagina os subalternos apenas como diferentes, num estado de ‘inocência simbólica’”; nem a idéia do “etnocentrismo das classes dominantes ou ‘dos grupos cultos associados ou aspirantes ao poder’, que crendo monopolizar a definição cultural do humano, consideram o diferente como ‘barbárie’ ou ‘incultura[16]’”. Afinal, tensão entre ambas as forças permeiam os modos de ver os ambientes e assim classificá-los.

Mas o ideal, num modelo de sociedade enredada tecnológica, econômica e culturalmente, é apropriar-se dessas tensões e a elas somar atualizações. Isso porque “a sociedade, antes concebida em termos de estratos e níveis, ou distinguindo-se segundo identidades étnicas ou nacionais, agora é pensada como metáfora de rede”, afirma Canclini. Agora os incluídos estão “conectados”, cabendo aos outros a exclusão, pois “vêem rompidos seus vínculos, ao ficar sem trabalho, sem casa, sem conexão.[17]

Enfim, que desigualdade é essa que se apresenta nos dias atuais? Para Díaz a “desigualdade econômica é aquela caracterizada pela diferença de rendas e capacidade de consumo entre indivíduos e nações”. Já a desigualdade política é “entendida como a diferença com que se exercem os direitos políticos e têm-se acesso ao poder político”. E a desigualdade sócio-cultural é a “diferença entre grupos populacionais por etnia, gênero, ideologia, capital cultural, e status social[18]”. Todas são interligadas e tornam o fenômeno da reprodução da desigualdade extremamente complexo.

A desigualdade, no universo comunicacional, torna-se a significação dada às diferenças das esferas de relações sociais (sócio-econômicas, culturais, políticas e comunicacionais), que impossibilitam os atores sociais de representarem papéis semelhantes. Essa desigualdade opera em instâncias variadas: na economia, quando é reproduzida pelo acúmulo de bens e gera possibilidade de consumo de bens distintos entre os que têm e os que não têm; na cultura, conceituada como simbolização, que possibilita acesso a bens simbólicos e variedade interpretativa atribuída a esses bens, independentemente da valoração das culturas (mais ou menos elitistas, comunitárias, tribais etc.); Já a desigualdade na política, surge pela diferença de exercício dos direitos políticos e de acesso ao poder, em qualquer esfera. A desigualdade sócio-cultural demonstra diferenças entre grupos populacionais por etnia, gênero, ideologia, capital cultural, e status social.

Em suma, a desigualdade, para este estudo, é uma representação hierarquizada das diferenças, para a manutenção da posição social econômica e cultural de determinado grupo frente a outro. É, portanto, um modo de simbolizar o lugar social ocupado por alguns, como forma de justificar seus sucessos e fracassos, seus desejos e satisfações, seus gostos e limitações. Não é constituída ideologicamente -- posto que permite o trânsito de conteúdos físicos e simbólicos entre categorias distintas -- e menos ainda impõe uma categoria perpetuamente em posição superior a outra. A desigualdade é, pois, um processo hegemônico, em que os sentidos operam para valorar quem se é, em um tempo dado, e acontece em qualquer esfera de significação, demonstrando constante relação entre diferentes.

O telefone celular, pela intensidade em que se manifesta como mediador de relações (físicas ou simbólicas) no mundo contemporâneo, surge como um meio de comunicação a partir do qual se podem apontar necessidades significativas. Para alguns falar é o suficiente, para outros a comunicação processada pelos componentes tecnológicos é mais relevante. O aparelho então passa a significar a participação do seu proprietário diante do mundo. Jogar, compartilhar, reproduzir músicas ou fotos, essas são algumas ações comumente externadas nas práticas com o aparelho, mas que não se encerram nelas próprias.

Elas dizem algo mais: sobre lugares representados, sobre origens, desejos, possibilidades e a inserção do usuário; sobre o lugar que este indivíduo ocupa, mas que nem sempre percebe. O celular, através das ações explícitas e implícitas simbolizadas em sua posse, no seu manuseio e nos seus atributos, significa algo que pode dizer, sem falar, da condição em que os usuários se colocam social, econômica, ou politicamente.

 

 

 

Espaços empíricos de representações culturais

Estabelecendo-se a cultura como produção de sentido para acúmulo e manutenção de bens culturais, étnicos ou simbólicos, cabe apontar a constituição dos espaços a partir dos quais os usuários de celular atuam. Entretanto, para este estudo interessa um lugar comum em que se processam as representações e se estabelecem diálogos e identidades, e a partir dele buscar interpretar a operação de ações através dos instrumentos hibridados no telefone celular.

Algumas características da cidade de Santos, litoral do Estado de São Paulo, e dos hábitos de seus moradores aproximam-na socialmente de regiões metropolitanas. Nessa cidade praiana, apesar de fisicamente próximos, praia e morro são culturalmente distintos pela idéia de desigualdade, dada pelas diferenças (e pelos diferentes contextos) em que estes ambientes foram formados e desenvolvidos e nesse espaço foi realizada a pesquisa de campo para complementar este estudo.

A escolha do morro (qualquer um dos 19, divididos pelo bloco sólido que a cidade possui) como ponto de antagonismo à praia se dá primeiramente pela proximidade entre ambos (dentro dos 36 km² de área urbana de Santos). Neles verifica-se a presença de camadas menos abastadas da população (com acesso fácil ao espaço da praia), afastadas pelas diferenças, que se vêem em posição desigual a partir da sensação de distância da praia, e, por conseguinte, dos que usufruem de suas benesses. Esse afastamento, no entanto é extremamente simbólico, já que não se tem mais do que três quilômetros de raio, em média, para acessar o mar.

A praia, por conseguinte, aparece como ponto referencial desigual quando observada por seus símbolos econômicos, seus gostos, os gestuais a ela referentes, seus freqüentadores e algumas práticas esportivas elitistas (vela, iatismo, variações do surf e jet sky, por exemplo). É também um espaço democrático (pois se pode estar junto ali, na areia, no mar), inclusive culturalmente -- através das práticas relativas a ela –, e traz características comuns, como hábitos despojados, os esportes populares (futebol, vôlei, tamboréu e mesmo o surf) e o culto ao corpo. Tem-se a praia ainda como lugar de reunião, confraternização, de grandes shows gratuitos, de eventos de pequeno ou grande porte.

É dessa distinção que se estabeleceu o estudo de caso para a efetivação da pesquisa proposta, com vistas a identificar tendências dos usos do telefone celular por indivíduos vinculados à praia e outros aos morros.

Os lugares mistos como o centro da cidade, um ponto de passagem do habitante, em geral para compras e para o trabalho, foi pesquisado para observar se a tendência dos usos é reformulada quando o usuário está fora de seus ambientes de significação.

 

Para a concretização desse percurso empírico, elaborou-se um questionário com 29 questões, aplicadas durante a primeira semana de junho de 2008. Nove questões fechadas apresentam o gênero e determinam a renda, ou definem o estrato econômico ao qual o entrevistado pertence; sete outras perguntas fechadas indicam o celular, as tecnologias, os híbridos, a marca ou a operadora do usuário; nove questões abertas indicam motivações, intenção e efetivação de relações (compra, posse e usos) com o celular e através dele; por fim, três questões abertas foram elaboradas especificamente para os proprietários de celular pré-pagos. Foram entrevistados usuários de celular moradores de dois ambientes de significação (30 em cada local) e transeuntes residentes em Santos (15 pessoas) no lugar de passagem. De um total de 75 entrevistas, sete apresentaram informações conflitantes e foram excluídas.

Ainda que se evidenciem também entre as populações: os gestuais, as gírias (entre os mais jovens), os hábitos e os lugares de freqüência são indicadores claros dela. Mas o sentimento de desigualdade surge entre os moradores do morro, quando alguns se referem aos habitantes de praia como playboys, riquinhos ou o pessoal lá de baixo. Por outro lado, os habitantes da praia não têm o morro como referência comum (nem cultural, nem econômica, nem tecnológica). Em geral, contudo, a posse de objetos tecnológicos representa ascensão social, mas o celular não é apontado verbalmente em nenhum momento como significante de status.

As desigualdades tornam-se nítidas principalmente quando o foco é na renda e no grau de escolaridade. Enquanto as atividades melhor remuneradas e os profissionais liberais se apresentam em número expressivamente maior na praia, no morro os trabalhos de nível técnico ou o desemprego são mais evidentes. Em ambos os espaços ainda que o número de estudantes se mostre nivelado, os universitários aparecem unicamente na orla da praia.

É possível analisar também que quando se afirma utilizar o telefone celular para o trabalho, não se está referindo a um mesmo tipo de trabalho, mas diferentes atividades condicionadas, em geral, pela desigualdade presente nos espaços socialmente antagônicos. O resultado aferido no centro endossa também esse retrato.

Se se tem o veículo como indicador de ascensão econômica, fica mais evidente a posição ocupada pelo morador da orla da praia. É ali que se concentram os veículos mais novos, mais potentes e de maior valor pela marca. Os moradores da área de morro possuem veículos mais antigos e motocicletas de baixa cilindrada. São veículos em geral para a locomoção ou para trabalho[19].

Levando-se em conta que o mobile é uma extensão não somente do corpo, mas também do espaço, percebe-se que a semelhança do equipamento contrasta com os espaços estendidos e as ações desenvolvidas a partir deles. Um veículo utilizado mais como meio de transporte e menos como sinônimo de status, ou que é usado principalmente para serviços técnicos ou autônomos, tem como extensão tecnológica no celular, meios de suprir essas necessidades (de transporte – que não é papel do mobile; ou de manutenção dos serviços, o que se efetiva). Ter ou não veículo, é poder estender o status, o trabalho ou a necessidade ao celular.

Quanto aos planos oferecidos pelas operadoras, os habitantes de todas as regiões optam pelos celulares pré-pagos. Esses modelos superam os pós-pagos nas três esferas, apesar de os morros contarem com um número muito mais expressivo de usuários dos pré. Têm-se, portanto, o celular mais como instrumento de uso do que de status. E, principalmente: mais como instrumento de uso limitado pela quantidade de créditos, ou pelo custo das ligações.

Essa semelhança oblitera outra desigualdade: aquela que limita a inclusão digital de modo integral aos usuários residentes em países com alto custo dos serviços prestados pelas operadoras. Aliás, essa constatação se dá também quando se percebem a escolha por diferentes operadoras em cada ambiente. É uma seleção que acomoda as necessidades de uso às oportunidades promocionais. Com efeito, é o conjunto que envolve a mobilidade, a potência do sinal e a qualidade dos serviços, aliado às propostas de barateamento dos custos para uso, que determinam a escolha da empresa de celular.

As diferenças de simbolização através dos usos do celular, dentro de uma sociedade desigual, são sutis pelo fato de os repertórios de reprodução simbólica serem muito aproximados. Desse modo as desigualdades não aparecem tão claramente na manipulação de objetos tecnológicos móveis. Por isso crê-se, aqui, que os desiguais digitais são mais desiguais em relação a outras sociedades, por não se perceberem em desvantagem em relação ao seu distinto.

A graduação do celular como mecanismo democrático, e de representação, simbólica depende do nível de importância dado pelo usuário a ele. Depende também da intensidade da presença do objeto em seu mundo, a ponto de transformá-lo em uma extensão protética do espaço, do corpo e do espírito.

Esse fenômeno fica flagrante quando se observam as respostas para a pergunta o que aconteceria se perdesse o celular[20]?

Nos morros apenas um entrevistado mostrou-se calmo diante de tal fato, e disse que compraria outro. Dois afirmaram que perderiam serviços. O restante (25 entrevistados) afirma que ficaria louco, ou “que é como perder um órgão”. O celular agrega algo presenteado (por outrem, ou por si mesmo), uma conquista, a inclusão no universo comunicacional, o encontrar e ser encontrado.

Na praia, onde o vínculo com o aparelho parece ser menor, seis entrevistados declararam friamente que “comprariam outro”; quatro disseram que perderiam serviços; três ficariam sem comunicação; o restante (13), apesar de representativo, atribuiu valor sentimental semelhante ao dos morros. Ou seja, 50% dos entrevistados perderiam o “órgão” celular.

No centro, o medo de perder a comunicação foi mais enfatizado. Alguns comprariam outro aparelho (os outros se dividiram entre sentir falta do aparelho e ficar arrasado). Isso talvez demonstre nesse ambiente a necessidade de usos para o trabalho e a capacidade de compra do que está empregado.

 

Conclusão

A velocidade do mundo atual aliada à necessidade de competência para manusear eficientemente os dispositivos hibridados no telefone celular, permite a poucos uma inserção eficaz no mundo digital através do mobile. Às maiorias fica o rebotalho, o resto dessas possibilidades. Suas limitações se escancaram sem que sejam percebidas, afinal o celular passa a sensação de inclusão. Ter-se-ia incorporado um instrumento que, como nenhum outro, carrega a significação de uma falsa consciência, “para a integração fictícia da sociedade no seu conjunto, portanto, à desmobilização das classes dominadas[21]”, se se utilizar o pensamento bourdieano. E aí se percebe a raiz da desigualdade, como representação da posição ocupada diante das diferenças.

Mas quando se desloca aos espaços locais -- e à relevância que eles desempenham na formação da cultura, do universo simbólico -- se compreende que não é somente a dominação, a exploração, ou a disputa de poder que está em jogo. Os laços afetivos, familiares (ainda que carreguem também disputas políticas e hierárquicas) e as relações na comunidade, reafirmam o lugar social ocupado pelos grupos, mas dessa consciência brotam as reivindicações, sejam verbalizadas, sejam expressas em ato[22].

Este estudo apresentou um modesto panorama dos usos através do telefone celular em uma sociedade específica. Ou melhor, forneceu a possibilidade de refletir sobre a relevância do espaço comum, no qual se dá o cotidiano, como fonte imperativa de significação: ainda que os instrumentos hibridados no aparelho possibilitem a navegação pelo ciberespaço, o que se quer é poder compartilhá-lo no espaço de vida.

É significativa a necessidade de preservar-se ligado à família, mesmo que o rádio ou o MP3 distraiam a atenção do usuário. O lazer, disfarçado nos instrumentos tecnológicos do celular, não se impõe sobre a importância do trabalho para certas categorias que dele necessitam. Os retratos, que poderiam deslocar-se da esfera comunitária para outros olhares da cidade, das gentes, do mundo, continuam focando os amigos, os parentes, àqueles que se quer presentes.

Não ignora-se, claro, que existem exceções: artistas digitais que surgem, poetas guiados pela limitação de caracteres, fotógrafos e cinegrafistas amadores que, vez ou outra, utilizam o celular como forma reivindicação, de denúncia, de manutenção da segurança. Mas ainda são exceções.

O telefone celular é ambíguo também quando permite que se aja em outra esfera que não a física, estendendo-a, ao mesmo tempo em que sutilmente exponha seu usuário. Facilitando a identificação de gestos, pelo volume do falar, pelo gosto musical, pelo armazenamento da imagem de pessoas que se quer bem. Espelha o usuário porque dá a ele uma liberdade, ainda que limitada, em mediar sua comunicação proteticamente, diferentemente de outros mediadores (TV e rádio não são personalizados, a web, em geral, ainda é limitada a um espaço fixo).

A personalização do texto, a escolha da foto do papel de parede, a música escolhida como toque para cada ligação, o que se mantém na agenda, a seleção musical ou a rádio FM escolhida, são modos de representação de mundo do usuário. E nele está retratado não somente desejos e necessidades, mas principalmente suas possibilidades econômicas e culturais, suas ações políticas postas em ato. Escolher atender alguém ou não, comentar algo após desligar determinada ligação indesejada, poder ou não manter os créditos no celular, compreender seus mecanismos e através deles poder reproduzir seus conteúdos. Esta é uma outra faceta do mobile, confrontada com o simbólico.

O jogo que se reproduz com o uso do telefone celular é negociado. Existem vantagens e desvantagens, lucros e perdas em ambos os lados (operadora e usuário). O que transparece nas expressões através do mobile é o espaço de relevância para a formação cultural, dos sentidos, do simbólico. Ele representa o cotidiano, principalmente em seu aspecto familiar, de trabalho, de lazer. As desigualdades se efetivam pelas representações das diferenças nesses ambientes. Quando esse cotidiano é posto em tensão na esfera política, econômica ou cultural, o indivíduo mobiliza um determinado papel social, através do qual posiciona-se criticamente ou passivamente diante dessa tensão.

Os meios de comunicação são mediadores dessas relações ambíguas. Mas o telefone celular é inovador, pois concentra em si as características de todos os outros meios, e ainda apresenta a mobilidade que muitos não têm. E assim como os outros, representa quem o usa, pelo fato de ser somente um significante. As significações atribuídas aos seus usos dependem do momento da relação que se observa. Desde a produção de conteúdos, passando pela distribuição de aparelhos, pela operação da telefonia, até as etapas de desejo de aquisição e efetivação da compra, e posteriormente seus usos, o telefone celular significa um instrumento de igualdades e desigualdades -- em maior e menor grau de acordo com o momento --, de manipulação, de vigilância, de exploração. Mas também de entretenimento, de segurança, de inclusão. O segredo está em saber quem é o sujeito dessas complexas relações. Se é que ele existe.

 

Referências bibliográficas

 

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https://www.ipsos.com.br, acessado em 25 de agosto de 2008

 



[1] Escola de Comunicação e Artes - ECA/USP - christiangodoi@hotmail.com

[2] Ver outros conceitos em TRIVINHO, Eugênio. Dromocracia cibercultural: lógica da vida humana na civilização mediática avançada. São Paulo: Paulus, 2007.

[3] “O objeto tecnológico”, aponta Trivinho, “de extensão do ente humano, passou a ser vetor de processos, ocupando por isso o centro da cena, enquanto o ente humano (...) acabou por figurar na história como um de seus anexos”. (TRIVINHO, Eugênio.O mal-estar da teoria: a condição crítica na sociedade tecnológica atual. Rio de Janeiro: Quartet, 2001, p.83)

[4] Têm-se o cotidiano aqui como práticas e modos de simbolização que permitem ao homem alterar “os objetos e os códigos” e dessa forma” se reapropria do espaço e do usos ao seu jeito.” (CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001)

[5] Não somente a questão de status, mas estamental no sentido weberiano do termo: “denominamos situação estamental um privilégio típico positivo ou negativo quanto à consideração social, eficazmente reivindicado.” (WEBER, Max. Economia e sociedade. Brasília, DF: Editora Universidade de Brasília: São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 1999, p. 202)

[6] O pertencimento hoje supera o desejo ou a reivindicação da inclusão ou do acesso. O que se quer é participar e de definir “aquilo no qual queremos ser incluídos, a invenção de uma nova sociedade”. DANIGNO, Evelina. Os movimentos sociais e a emergência de uma nova noção de cidadania. In: Anos 90: política e sociedade no Brasil. São Paulo: Brasiliense, 2004, p.109.

[7] Objetos viram fetiche, objeto de devoção “verbalmente silenciosa, mas emocionalmente intensa”. (CERTEAU, M. Op. cit. p.84)

[8] Visto que a própria sociedade, aponta Simmel, “significa interação entre indivíduos”. (SIMMEL, Georg. Questões fundamentais da sociologia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006, p. 59)

[9] Ver GODOI, Christian. À luz com as massas mediáticas: o prazer como mediação no contexto da recepção. In: Os sentidos da violência. Santos, SP: Realejo Edições, 2008. 

[10] Segundo Barra um “ingrediente constitutivo da cultura européia, invenção de um alter ego, de um ‘selvagem artificial’, para reservar aos europeus o lugar civilizado. (BARRA, in CANCLINI, Néstor Garcia. Consumidores e cidadãos. Rio de Janeiro: UFRJ, 2006, p. 266)

[11] “Que se inicia pela percepção de uma lacuna nos conhecimentos acerca da qual formula hipóteses e, pelo processo de inferência dedutiva, testa a predição da ocorrência de fenômenos abrangidos pela hipótese”. (MARCONI, Marina de Andrade, LAKATOS, Eva Maria. Metodologia do trabalho científico. São Paulo: Atlas, 2001, p. 106)

[12] Análise do resultado de observação direta extensiva por formulário, realizada na primeira semana de junho de 2008, sobre as tendências dos usos de aparelhos celular em espaços urbanos distintos (morro, praia e centro) na cidade de Santos; espaços estes representantes de condições sócio-econômicas antagônicas sob uma mesma perspectiva cultural (o vínculo com a praia e o mar).

[13] É importante perceber como “os sujeitos políticos aumentam o seu espaço de jogo na medida em que conseguem aumentar sua riqueza cooperativa”; cabe lembrar a redução do papel do Estado, em especial após a Segunda Guerra, momento a partir do qual a soberania “é repartida por diversas instituições – local, regional, nacional, estatal e internacional – e limitada por essa pluralidade” (INNERARITY, Daniel. A transformação da política. Lisboa: Teorema, 2002, p. 177, 178).

[14] ELIAS, Norbert, SCOTSON, John L. Os estabelecidos e os outsiders: sociologia das relações de poder a partir de uma pequena comunidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000, p. 199.

[15] CANCLINI, Néstor, Garcia. Diferentes, desiguais e desconectados. Rio de Janeiro: UFRJ, 2005.

[16] GRIGNON, Claude, PASSERON, Jean-Claude. Lo culto y lo popular: miserabilismo y populismo en sociologia y en literature. Buenos Aires: Nueva Visión, 1991. Apud CANCLINI, ibid. p. 89.

[17] CANCLINI, N. G. Op. cit. p. 92.

[18] Idem. p. 129.

 

[19] A questão da desigualdade que tem início com as possibilidades econômicas (e que pode ser percebida pelos bens acumulados) e se desenvolve para outras esferas (como a cultural e a de relações sociais) surge claramente neste estudo quando se opera nas variáveis renda/local. No morro a maior parte dos selecionados não possui, por exemplo, veículo automotor. Uma minoria fica restrita às motocicletas com 125 cilindradas (fabricadas entre 2005 e 2008), ou automóveis populares datados entre 1995 e 2005.

Na praia, 36% dos entrevistados declararam não ter automóvel. Com renda a partir de 10 salários, 28% têm veículos Honda e VW fabricados entre 2000 e 2008. Foram declarados 15 automóveis e duas motocicletas (17 veículos no total, contra nove nos morros).

O centro reflete uma mistura entre os outros dois ambientes: a maioria não tem veículo, inclusive alguns com renda superior a 10 salários, e os veículos têm data de fabricação entre 1995 e 2005. Motos também são novas (com data de 2008). No total foram declarados oito veículos (cinco carros e três motos).

 

[20] Os resultados da presente pesquisa complementam e são complementados pelo estudo da Ipsos: “o Estudo ‘Mobilidade Brasil 2008’ da Ipsos revela como estes pequenos aparelhos estão mudando o comportamento dos brasileiros.

A multinacional francesa de pesquisa Ipsos realizou o estudo ‘Mobilidade Brasil 2008’ que busca, principalmente, compreender de que maneira o celular modificou a vida e o comportamento das pessoas e se ele trouxe novas atividades e costumes aos seus usuários. A pesquisa foi realizada em maio de 2008, foram 1.000 entrevistas com ambos os sexos, acima de 16 anos em 70 cidades e 9 regiões metropolitanas.

O Estudo ‘Mobilidade Brasil 2008’ revela que (...) existem pessoas que não conseguem separar-se de seu celular nem por um segundo. Para a maioria das pessoas, um tempo suportável sem o aparelho é de, no máximo, um dia.

Um em cada cinco brasileiros se sente abandonado quando não recebem nenhuma ligação ou mensagem durante o dia. Especialmente entre as mulheres (23% contra 15% dos homens) e principalmente os jovens.

Mais da metade dos respondentes usuários de telefone celular no Brasil realiza em média duas a cinco ligações de seu celular diariamente, sendo a maior concentração (20%) na faixa das três chamadas diárias”.

(www.ipsos.com.br, acessado em 25 de agosto de 2008).

[21] BOURDIEU, P. 2007, op. cit. p. 10.

[22] Após a primeira quinzena de maio de 2006, dezenas de pessoas (entre suspeitos de ligação com o crime organizado, policiais, bombeiros e cidadãos) foram mortas a tiros. Nenhuma novidade, não fosse o fato de as ordens de ataque terem sido dadas através de telefones celulares, de dentro de presídios, por líderes do PCC (Primeiro Comando da Capital – organização criminosa centralizada no Estado de São Paulo). Com efeito, dessa forma articularam-se inúmeras células terroristas em todo o estado, fato esse culminando ao longo do ano numa (suposta) ameaça das atividades comerciais, empresariais, políticas, religiosas de grande parte das cidades. (sobre o assunto, ver GODOI, C. 2008, op. cit.)