Uma reflexão sobre a violência nas escolas
(*) José Lascane é vereador em Santos, professor universitário e autor de livros didáticos.
É preciso penetrar com avidez e determinação em suas causas, debater. Mestres, trabalhadores da educação, pais, autoridades, todos precisam se envolver, superar distâncias. A expansão do atendimento escolar para um maior número de crianças e jovens, a evolução nos números quanto ao aproveitamento e a redução nos que abandonam os centros de ensino, estatísticas não bastam. Em tempos de crise, haveremos de atentar para um fenômeno social que não pode ser mais analisado individualmente, sob pena de cronificá-lo: a violência nas escolas. Inclusive porque aniquila o todo educacional.
Paredes pichadas, equipamentos destruídos, vidros quebrados, reformas constantes que não conseguem garantir um ambiente salutar para nossos alunos. A violência está instalada entre nossas crianças e jovens, resultando em índices de criminalidade quase que equivalentes ao do lado de fora destes espaços, que pensávamos oásis de segurança. Agressões, conflitos, despreparo de alguns mestres em lidar com um problema inédito, muitas vezes vítimas. Reflexos da violência social? É evidente que a criança traz
Já não basta revistar alunos a procura de armas e drogas, colocar guardas e vigilantes na porta e dentro das escolas para coibir ações deletérias, coordenadoras e psicólogas tratando caso a caso, expulsões e discriminações. Desencantados e sem perspectivas, bombardeados por programas violentos na TV e no cinema, quando não nas ruas e jornais, introduzidos precocemente em temas sexuais, vítimas dos traficantes que a polícia não consegue conter, a marginalidade juvenil cresce nas escolas.
A disseminação da cultura marginal oferece a noção da falsa masculinidade a partir da figura “carimbada” das roupas, bonés e tatuagens – em que o “careta” e o estudioso são ídolos antigos em decadência, em que os méritos não são aqueles outrora conceituados.
Na idade jovem há uma grande necessidade de auto-afirmação, de ser valorizado pelo grupo. Os amigos acabam sendo mais importantes que a família, na medida em que os pais nestas quatro últimas décadas estão cada vez com menos tempo para cuidar da educação dos seus filhos, devido a compromissos profissionais na luta pela sobrevivência financeira.
As medalhas outrora glorificadas já não significam nada. Os meninos, e agora meninas, embora em menor escala se batem e se cortam uns aos outros. Nos Estados Unidos, cogita-se aplicar exames em todos os alunos para identificar os usuários de drogas. Sim, identificar é importante para tratá-los. Mas e depois, no que resultará a discriminação e a separação inevitável? O assunto deve ser debatido. Aparelhos de V-Ship na TV para os pais impedirem que suas crianças assistam determinados programas? Faltam soluções globais.
Urge aprender a lidar com esta infância e juventude tornada violenta a partir de sua origem, na compreensão de que essa formação vem do meio e não o inverso.
O entusiasmo juvenil, de uma época de ingresso na puberdade, gera energias que exigem atenção e tratamento adequado para encaminhá-la, sob pena de sofrermos os efeitos. Lares conturbados pelo desemprego, álcool, insegurança, competição são as nascentes. Ingresso no mundo das drogas inerentes aos bandos que atravessam à cidade a cultura ideal. Para construir uma escola melhor, os ingredientes são simples e só pedem diálogo e integração entre pais e crianças, adultos e meninos.
A violência é um fenômeno visível a olho nu. Evidente, o problema é maior no Rio de Janeiro, São Paulo, capitais.
Tem mais, explosões de artefatos dentro da escola, ameaça de morte por traficantes, tiros contra o prédio escolar, incêndio provocado, uso de armas por alunos – este mais de um por cento. Invasões de estranhos, 7,75%. Mísseis erram e matam kosovares, crianças no Iraque, jovens acertam e matam colegas. Ninguém consegue ficar fora do clima de uma sociedade agredida, competitiva à selvageria, violentada e violenta. Desenhos e videogames fazem a cenografia da violência e a morte, sugerindo-a bela.
Morte às centenas em cada filme que entram livremente nos lares. Chega: ou oferecemos soluções ou confessamos nossa incapacidade. Mas nossos mestres, que dedicaram a vida ao ensinar, tem agora mais uma missão. Querem cumpri-la, mas sentem-se impotentes diante do quadro, pois não bastam suas ações, que se exigem multidisciplinares, sociais, inclusive.
E nós, pais, temos que, civilizadamente, ajudar os jovens a superar esta falta de limites, até porque, humanos que somos nos credenciamos racionais e superiores a todas as demais espécies da Terra.
Cumpramos, pois, esta elevada missão.